Decepção

 


Decepção

Na noite escura, o coração suspira,

Um eco frio de um sonho que morreu,

A fé outrora viva se retira,

E deixa em sombras tudo que foi meu.


A flor que prometia eternidade,

Despetalou-se ao vento sem aviso,

E o que restou foi dor e a saudade,

Num peito amargo, de ilusões conciso.


O brilho falso de um olhar querido,

Fez-se estilhaço em lágrima caída,

E o riso, outrora doce e comovido,

Agora é som de alma destemida.


O tempo, sábio mestre e cruel,

Mostrou que a fé pode ser enganosa,

E a decepção, em tom de amarga fel,

Transmuta a vida em senda dolorosa.


Caminhos falsos, promessas desfeitas,

E o amor, outrora fonte de esperança,

Mostrou-se treva em ruas tão estreitas,

Levando ao abismo a doce confiança.


Na quebra do encanto, a alma clama,

Buscando alento em meio à escuridão,

Mas só encontra o peso de quem ama,

E carrega em si a dor da traição.


O horizonte, antes pleno e brilhante,

Agora é nevoeiro e tempestade,

E a voz do ser, em tom agonizante,

Lamenta o fim de toda a claridade.


O que fazer com sonhos despedaçados,

E com a vida em ruínas pelo chão?

É seguir adiante, passos marcados,

Buscando em si uma renovação.


Que a dor se transforme em nova aurora,

E o peito, forte, se refaça em lume,

Pois mesmo na tristeza que devora,

Há de nascer um novo perfume.


A decepção é faca de dois gumes,

Que fere e ao mesmo tempo nos ensina,

A distinguir os falsos dos que são,

E encontrar no próprio eu a sina.


Que as cicatrizes sejam, então, sinais,

De um coração que aprendeu a crescer,

E que o passado deixe seus vestais,

E o presente aprenda a florescer.


Ainda que o céu se mostre nublado,

E a esperança pareça se extinguir,

Há sempre um novo dia anunciado,

E com ele, o desejo de sorrir.


A dor é mestra em vestes diferentes,

Que nos força a buscar outro caminho,

E nos torna, ao final, mais resilientes,

Transformando o pranto em doce carinho.


Assim, na decepção se esconde a vida,

E na tristeza, a chance de mudar,

Pois cada queda é força revivida,

E cada lágrima ensina a amar.


Que seja assim o fim do desencanto,

Uma porta para nova emoção,

E que da dor se faça novo canto,

No coração que encontra redenção.